sábado, 28 de novembro de 2009

Como são constituídas as trajetórias escolares e a relação com a diversidade

Eu, enquanto professora da EJA da rede municipal de Florianópolis fui tentando vincular como percebi na minha trajetória escolar as relações sociais, étnicas/raciais e de grupo. A maior parte do ensino básico concluí em escolas estaduais no RS nas déc. de 1980-90.Lembro que na pré-escola a professora enfatizava muito entre os alunos que "não se bate em mulher nem com pétalas de flores". Isso me marcou bastante. Não tinha discernimento sobre violência doméstica, mas sei que naqueles anos não haviam delegacias especializadas em atendimento à mulher na região. Nesse sentido, acho que esta professora fazia a parte que lhe cabia. Através da educação alertava para um problema social grave.Não consigo lembrar se tive professores negros. Acho que não. A escola mesmo sendo pública agregava poucos alunos negros. Uma lástima que demostra que mesmo no ensino público as classes populares não são (ou não eram) incluídas no seu direito a educação.Hoje noto que muitos dos alunos da Educação de Jovens e Adultos são descendentes afro-brasileiros. Lendo alguns depoimentos destes através dos memoriais é perceptível trajetórias escolares marcadas por reprovações, humilhações, violências, desagregação familiar. O resgate "destes tantos" excluídos do ensino ainda se faz de maneira "tímida", pois tais sujeitos que chegam na EJA ainda são minoria frente a tantos que ainda estão a margem.Quanto a questão índio lembro que na minha trajetória escolar os livros didáticos eram bem romanceados no sentido de mostrar o índio como o "herói", aquele integrado a selva. Um mito. A realidade contradiz a teoria. O índio (os que sobreviveram ao massacre do homem europeu) estão espalhados pelo país. Muitos "urbanizados", empobrecidos, ambulantes. E por vezes tenho o desprazer de ouvir comentários do tipo "Coitadinhos!", "Eles só esmolam, deviam trabalhar". Comentários advindos de pessoas sem nenhuma sensibilidade social e histórica. São aqueles engolidos pelo discurso que o homem branco é exemplo e seu modo de vida é o que deve ser seguido. O que ignora totalmente a diversidade linguística, social e cultural. Uma violência.Além disso, lembro que a universidade muitas vezes não incluiu no currículo a contextualização e a necessidade da educação de jovens e adultos na atualidade. Ou disciplinas sobre educação especial/inclusiva/diversidade social. O que é um choque com a realidade educacional na prática pedagógica.Vale a pena refletir sobre como são tecidas as nossas próprias trajetórias escolares e como foi a relação com as diversidades. Você já pensou sobre isso?

3 comentários:

  1. Oi Andressa,

    Gostei do texto. Sobre a minha trajetória, não acredito que tenha presenciado discriminação racial na minha vida escolar, mas social sem dúvidas.

    Até o próximo post.

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  2. Oi, Andressa,
    Da mesma forma que tu, nâo tive professores negros e meus coleguinhas de turma eram, a maoiria, brancos. Isso quer dizer que entre minha época de escola e a tua já houve algum avanço, embora muito lento pois nâo havia ainda políticas públicas com ações positivas como as que temos hoje. É pensando nessa injustiça com nossos irmãos afro-descendentes que sou a favor das cotas nas Universidades.Abração.

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